Filhos e renda familiar: uma aplicação do efeito quantílico de tratamento
Ana Katarina Campêlo, Everton Nunes da Silva
Resumo
Pesquisas sobre as conseqüências da decisão de ter filhos na renda e na oferta de trabalho são complicadas pelo fato de a fecundidade ser uma variável endógena, o que pode introduzir um viés no estimador convencional. Para estimar o efeito daquela decisão de forma mais adequada, usamos neste artigo a abordagem recentemente proposta por Abadie, Angrist e Imbens (1998 e 2002), denominada efeito quantílico de tratamento (EQT). Esse estimador utiliza a preferência dos pais por ter filhos de sexos diferentes como uma variável instrumental, permitindo variações nas estimativas ao longo dos quantis da distribuição da renda familiar. O EQT pode ser usado para determinar como uma intervenção afeta a distribuição da variável resposta para indivíduos cuja característica de reação ao tratamento é afetada pela variável instrumental. Essa técnica também tem a vantagem de ser consistente com os resultados obtidos pela regressão quantílica convencional quando o tratamento é exógeno. As estimativas do EQT com os dados da PNAD para o Brasil revelam que há diferenças importantes, entre os diversos quantis, no efeito da renda familiar sobre a decisão de ter filhos. Os resultados apontam para uma redução que varia entre 14% e 18% nos quantis considerados da distribuição de renda, sendo maior naqueles que correspondem aos extremos da distribuição de renda, em especial nos que correspondem às famílias de menor renda.
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