Pesquisa e Planejamento Econômico, volume 24 | número 3 | dezembro 1994

Hiperinflação, credibilidade e estabilização

Álvaro Antônio Zini Júnior

Resumo


Este estudo discute as hiperinflações, as mudanças de política que permitiram superar esses episódios e a noção de credibilidade em economia. Uma característica comum de todas as hiperinflações e de outros episódios de instabilidade monetária forte é que apresentam processos não-controlados de emissão de moeda decorrentes de déficits públicos. O problema fundamental é a crise fiscal, mas sublinha-se a questão paralela da retomada de controle da gestão monetária, um aspecto menos discutido. Examina-se, com esta perspectiva, o final das hiperinflações e a noção de credibilidade. O fim das hiperinflações tem-se dado, freqüentemente, por uma ruptura do processo, com a adoção de políticas que levam ao equilíbrio fiscal, novas regras de emissão monetária, que restringem o financiamento ao Tesouro, e a sustentação de conversibilidade da moeda. Argumenta-se que há três quesitos necessários à noção de credibilidade: a) é um atributo endógeno de um programa econômico (e não de uma pessoa), no sentido de ser uma avaliação de que o governo vai observar sua restrição orçamentária; b) baseia-se na avaliação da solvência intertemporal das contas públicas; e c) requer-se alguma redundância (overcommitment) nesse compromisso. Quanto a este item, uma vez deteriorado o crédito público, não se estabilizam as expectativas inflacionárias se se deixar pendentes problemas de dívida pública flutuante (debt overhang), pois a credibilidade das promessas fica enfraquecida. Esses pontos são ilustrados com o exame das experiências da Alemanha em 1923/24, da França em 1926 e da Itália em 1926/27, e de como esses países procederam para estabilizar suas economias. O Plano Dawes para a Alemanha, a Caixa de Amortização de Poincaré e o alongamento da dívida italiana em 1926 são exemplos de como se enfrentou o debt overhang nesses países.

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